segunda-feira, dezembro 28, 2009

#5. Filosofia de Ponta: Reminiscências e Raízes

Certamente toda a gente já teve aquela sensação de conforto absoluto e segurança ao voltar ao local das suas raízes. É um facto que a Dorothy do "Feiticeiro de Oz "tinha toda a razão quando batia os calcanhares nos seus sapatinhos de rubi, e dizia, fechando os olhos, "there's no place like home". É absolutamente verdade. Este Natal pude ir a casa dos meus pais. Nem sempre isso é possível, por várias ordens de razões, mas este ano consegui ir 3 dias à terra que me viu nascer. Nos últimos anos, tenho faltado muitas vezes à chamada da casa paterna, e visto daqui, tenho pena que assim tenha sido. A minha terra é muito fria, sobretudo nesta época do Natal. Não neva (felizmente!...). mas foram muitos anos a saborear pais natal de chocolate enrolada numa manta na cozinha a ver filmes no dia de Natal à tarde. À parte com todas essas tretas do Natal, das prendinhas, dos centros comerciais e das compras, das renas e tipos barbudos vestidos à Coca-Cola, e demais foleirices que toda a gente sabe que odeio, voltar à terra este Natal trouxe-me as reminiscências de tempos que já passaram e que, sinceramente tenho saudades. Pegar no meu antigo carrito, chaufagem no máximo, rumar a Viana do Castelo e ir visitar uma grande amiga dos tempos de menina (mesmo que tenha ido directamente ao emprego dela!!! - P..., adoro-te!), percorrer aqueles 20 km de Ponte de Lima a Viana a ouvir as musiquetas da Rádio Ondas do Lima, ora folclore (delícia dos domingos de manhã), ora o "One Moment in Time" da Whitney Houston; ver o pessoal a movimentar-se para todos os lados numa azáfama, logo de manha cedinho, mesmo num domingo (que saudades de ver lojas abertas às 9h da manhã e até antes!!!), conhecer as pessoas de vista, ver miudos que carragámos ao colo já enormes e muitos deles com família constituída; passar pelos fotógrafos e ver as fotos dos casamentos dos nossos colegas de escola que não vemos há anos, sair da missa das 7h30 da manhã, frio de rachar, e passar no tasco de sempre, lá estando a salamandra acesa , prontinha para sentar em frente e aquecer os pés, tomar um café, uma sopa, um cozido, o que quer que se esteja a fazer na cozinha do amigo Carlos, conversar com os amigos, vizinhos e conterraneos em geral, como se nunca dali tivesse abalado... São reminiscências tão boas e tão presentes, felizmente, que quase que me fazem esquecer o motivo que me fez sair de lá há uns bons anos. E porque surtem estas reminiscências do passado e das raízes de cada um este tipo de sensações? Dizem que o local onde se nasce permanece sempre nas nossas memórias como o início de tudo, a marca inicial da nossa personalidade. De facto, até pode ser assim, não sei é como será com os saltimbancos, ou as pessoas que passam a vida em constante viagem. De toda a forma, como muita da minha infância também foi passada na outra ponta do país, completamente oposta em costumes e em atitudes, às vezes as coisas confundem-se, mas parece que ainda voltei para o Norte a tempo de deixar aprofundar na minha memória a pureza e a espontaneidade daquela terra. Tem mais a ver comigo, não sei. Quando um indivíduo nasce, forma a sua personalidade em torno de determinados valores que lhe são transmitidos, por todos os que o rodeiam. É imbuído no ambiente. A minha ideia é que mesmo que saia dali, mesmo que emigre, viaje, desapareça, e mesmo que o negue, o local suas raízes fica na mente do indivíduo marcado como o círculo de encontro, o primeiro porto de onde se saiu, aquele ponto onde se anseia voltar, nem que seja para ver como está. Um marco, um porto seguro, o inicio da aventura. No fundo, o conforto e a segurança que a nossa terra nos traz à lembrança tem a ver com a própria segurança do útero materno, com o conforto do circulo familiar. Saímos dali. Somos dali. E não há status nem farsa que possa apagar isso. Choca-me que as pessoas neguem as suas raízes, ou pior, que trocem das raízes dos outros. Cada um é de onde é, teve a educação que teve, e com o tempo pode chegar onde quiser, se quiser. O lugar de onde saiu pode até ser irrelevante como condicionante,(ou não) mas está lá. E seja onde for, deve ser motivo de respeito, pelo menos. Negar as raízes é cobarde. E eu não sou cobarde. Tenho muito orgulho de ser donde sou.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Amizade pura

Sem entraves, sem névoas,

a amizade é um límpido lago, vasto,

que nunca se esgota, não evapora,

apenas vai mudando de forma ao logo dos anos.

A erosão do tempo não o gasta, apenas apura,

reforça as suas bases e abrilhanta a sua superfície.

a pureza das suas águas torna-se cada vez mais refinada,

e não se contamina de forma alguma,

nem o lodo da distância lá consegue alastrar.

Amigos, dos verdadeiros,

são aqueles que temos no coração a vida toda,

e que não esquecemos mesmo que estejam longe da nossa vista.

São vocês. Vocês sabem.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

O Erro e o Breu

Noite negra,
vazio duro, solidão. O erro constatado, empiricamente sofrido, de quem já não consegue ver o futuro. Ou nunca o viu. Mão vazia, gretada e morta, de quem já não tem mais nada para dar. Alma errante, sem fim nem caminho traçado, perdida na incerteza do horizonte inatingível. O desejo que foi, a sorte que era, o riso tolo, incauto, de quem esperava tudo e nada teve. Restou nada. Só o Erro... e o Breu. (c) Bluerussian

terça-feira, fevereiro 10, 2009

#4. Filosofia de Ponta: A crise do ser social

O Homem, esse animal social. "Ninguém é feliz sozinho", essa máxima tão kitsch quanto verdadeira. Na realidade, o Homem precisa dos outros por duas razões: para satisfazer a carne, e para satisfazer o ego.
Senão vejamos: o sexo é uma necessidade física e social - precisamos de nos relacionar sexualmente, por uma razão hormonal e por uma razão social, temos que satisfazer o corpo e temos que fazer proliferar a espécie. Estas duas razões podem sempre andar aliadas, ou nem por isso, mas movem o mundo em muitos sentidos. Mas o EGO, esse.... esse é a verdadeira causa de todos o males (ou bens) da sociedade. O Homem tem necessidade de se afirmar, perante o sexo oposto, perante o mesmo sexo, perante o poder, perante o vizinho, o cão e o gato, toda a gente. E porquê? Porque só é aceite se for superior, ou pelo menos igual, aos outros .Se for inferior, é escumalha. E integrar é uma necessidade, lá está, porque sozinhos definhamos à margem e não somos humanos... somos uma mobília jogada fora. Mas integrar muitas vezes implica mentir. Enganar. Ludibriar. "Eu sou, eu faço, eu tenho, eu vou". Isso é que interessa. O que define, no dia de hoje, as pessoas, é o que têm, mais do que o que fazem. Em temo de crise, como este, é tão amiúde que vemos toda a gente encher a boca para falar de dificuldades, mas não as suas: cada um esforça-se por ostentar faustosamente aquilo que tem e não tem, numa feira de vaidades que não tem fim. Mesmo que isso implique faltar tudo lá em casa. Dá asco ver certas pessoas descer tão baixo ao recusarem enfrentar a realidade da crise, continuando a esgotar os recursos já extintos, esperneando para evitar um afogamento, mas mantendo a cabeça fora de água, linda e loira, cheia de botox, cremes caros e perfumes, laca e madeixas, trapo de marca, bijouteria fina. É decadente que as pessoas se recusem a trabalhar porque tem vergonha de trabalhar numa coisa "abaixo do seu nível". E aí, então, sabe Deus o que vai lá em casa. É angustiante ver toda a gente a comer ar e vento e fatias fininhas de fiambre e queijo, para não abdicar das férias no Algarve. Dói ver um pai e uma mãe com trapinho novo acabado de comprar numa loja de marca a recusar um Danoninho à criança "porque é caro". Imagino alguns frigoríficos lá em casa. Brancos e límpidos, vazios. Comer já não é prioridade, e se for tem que ser rasco e barato. O que se traz em cima do corpo e nas mãos (e pés) é que não pode fazer denotar a crise. O Natal passou, e onde estava a crise? Nos centrso comerciais não esteve, com certeza... A crise foi depois, para pagar as contas do cartão de crédito em Janeiro. Pelo menos havia os restos do Natal para comer. O Homem desumaniza-se. Trai-se, desnaturaliza-se, plastifica-se. Tudo porque quer paracer integrado, não na Humanidade, mas numa classe confortável, culta e rica. Humanidade é para pobres. E pobres são os pedintes. Pobres são eles, os "integrados". De espírito. Falso, tudo falso. Tudo ao cadafalso, isso sim.