terça-feira, fevereiro 10, 2009

#4. Filosofia de Ponta: A crise do ser social

O Homem, esse animal social. "Ninguém é feliz sozinho", essa máxima tão kitsch quanto verdadeira. Na realidade, o Homem precisa dos outros por duas razões: para satisfazer a carne, e para satisfazer o ego.
Senão vejamos: o sexo é uma necessidade física e social - precisamos de nos relacionar sexualmente, por uma razão hormonal e por uma razão social, temos que satisfazer o corpo e temos que fazer proliferar a espécie. Estas duas razões podem sempre andar aliadas, ou nem por isso, mas movem o mundo em muitos sentidos. Mas o EGO, esse.... esse é a verdadeira causa de todos o males (ou bens) da sociedade. O Homem tem necessidade de se afirmar, perante o sexo oposto, perante o mesmo sexo, perante o poder, perante o vizinho, o cão e o gato, toda a gente. E porquê? Porque só é aceite se for superior, ou pelo menos igual, aos outros .Se for inferior, é escumalha. E integrar é uma necessidade, lá está, porque sozinhos definhamos à margem e não somos humanos... somos uma mobília jogada fora. Mas integrar muitas vezes implica mentir. Enganar. Ludibriar. "Eu sou, eu faço, eu tenho, eu vou". Isso é que interessa. O que define, no dia de hoje, as pessoas, é o que têm, mais do que o que fazem. Em temo de crise, como este, é tão amiúde que vemos toda a gente encher a boca para falar de dificuldades, mas não as suas: cada um esforça-se por ostentar faustosamente aquilo que tem e não tem, numa feira de vaidades que não tem fim. Mesmo que isso implique faltar tudo lá em casa. Dá asco ver certas pessoas descer tão baixo ao recusarem enfrentar a realidade da crise, continuando a esgotar os recursos já extintos, esperneando para evitar um afogamento, mas mantendo a cabeça fora de água, linda e loira, cheia de botox, cremes caros e perfumes, laca e madeixas, trapo de marca, bijouteria fina. É decadente que as pessoas se recusem a trabalhar porque tem vergonha de trabalhar numa coisa "abaixo do seu nível". E aí, então, sabe Deus o que vai lá em casa. É angustiante ver toda a gente a comer ar e vento e fatias fininhas de fiambre e queijo, para não abdicar das férias no Algarve. Dói ver um pai e uma mãe com trapinho novo acabado de comprar numa loja de marca a recusar um Danoninho à criança "porque é caro". Imagino alguns frigoríficos lá em casa. Brancos e límpidos, vazios. Comer já não é prioridade, e se for tem que ser rasco e barato. O que se traz em cima do corpo e nas mãos (e pés) é que não pode fazer denotar a crise. O Natal passou, e onde estava a crise? Nos centrso comerciais não esteve, com certeza... A crise foi depois, para pagar as contas do cartão de crédito em Janeiro. Pelo menos havia os restos do Natal para comer. O Homem desumaniza-se. Trai-se, desnaturaliza-se, plastifica-se. Tudo porque quer paracer integrado, não na Humanidade, mas numa classe confortável, culta e rica. Humanidade é para pobres. E pobres são os pedintes. Pobres são eles, os "integrados". De espírito. Falso, tudo falso. Tudo ao cadafalso, isso sim.

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