Certamente toda a gente já teve aquela sensação de conforto absoluto e segurança ao voltar ao local das suas raízes. É um facto que a Dorothy do "Feiticeiro de Oz "tinha toda a razão quando batia os calcanhares nos seus sapatinhos de rubi, e dizia, fechando os olhos, "there's no place like home". É absolutamente verdade.
Este Natal pude ir a casa dos meus pais. Nem sempre isso é possível, por várias ordens de razões, mas este ano consegui ir 3 dias à terra que me viu nascer.
Nos últimos anos, tenho faltado muitas vezes à chamada da casa paterna, e visto daqui, tenho pena que assim tenha sido.
A minha terra é muito fria, sobretudo nesta época do Natal. Não neva (felizmente!...). mas foram muitos anos a saborear pais natal de chocolate enrolada numa manta na cozinha a ver filmes no dia de Natal à tarde.
À parte com todas essas tretas do Natal, das prendinhas, dos centros comerciais e das compras, das renas e tipos barbudos vestidos à Coca-Cola, e demais foleirices que toda a gente sabe que odeio, voltar à terra este Natal trouxe-me as reminiscências de tempos que já passaram e que, sinceramente tenho saudades.
Pegar no meu antigo carrito, chaufagem no máximo, rumar a Viana do Castelo e ir visitar uma grande amiga dos tempos de menina (mesmo que tenha ido directamente ao emprego dela!!! - P..., adoro-te!), percorrer aqueles 20 km de Ponte de Lima a Viana a ouvir as musiquetas da Rádio Ondas do Lima, ora folclore (delícia dos domingos de manhã), ora o "One Moment in Time" da Whitney Houston; ver o pessoal a movimentar-se para todos os lados numa azáfama, logo de manha cedinho, mesmo num domingo (que saudades de ver lojas abertas às 9h da manhã e até antes!!!), conhecer as pessoas de vista, ver miudos que carragámos ao colo já enormes e muitos deles com família constituída; passar pelos fotógrafos e ver as fotos dos casamentos dos nossos colegas de escola que não vemos há anos, sair da missa das 7h30 da manhã, frio de rachar, e passar no tasco de sempre, lá estando a salamandra acesa , prontinha para sentar em frente e aquecer os pés, tomar um café, uma sopa, um cozido, o que quer que se esteja a fazer na cozinha do amigo Carlos, conversar com os amigos, vizinhos e conterraneos em geral, como se nunca dali tivesse abalado...
São reminiscências tão boas e tão presentes, felizmente, que quase que me fazem esquecer o motivo que me fez sair de lá há uns bons anos.
E porque surtem estas reminiscências do passado e das raízes de cada um este tipo de sensações?
Dizem que o local onde se nasce permanece sempre nas nossas memórias como o início de tudo, a marca inicial da nossa personalidade. De facto, até pode ser assim, não sei é como será com os saltimbancos, ou as pessoas que passam a vida em constante viagem. De toda a forma, como muita da minha infância também foi passada na outra ponta do país, completamente oposta em costumes e em atitudes, às vezes as coisas confundem-se, mas parece que ainda voltei para o Norte a tempo de deixar aprofundar na minha memória a pureza e a espontaneidade daquela terra. Tem mais a ver comigo, não sei.
Quando um indivíduo nasce, forma a sua personalidade em torno de determinados valores que lhe são transmitidos, por todos os que o rodeiam. É imbuído no ambiente.
A minha ideia é que mesmo que saia dali, mesmo que emigre, viaje, desapareça, e mesmo que o negue, o local suas raízes fica na mente do indivíduo marcado como o círculo de encontro, o primeiro porto de onde se saiu, aquele ponto onde se anseia voltar, nem que seja para ver como está. Um marco, um porto seguro, o inicio da aventura.
No fundo, o conforto e a segurança que a nossa terra nos traz à lembrança tem a ver com a própria segurança do útero materno, com o conforto do circulo familiar. Saímos dali. Somos dali. E não há status nem farsa que possa apagar isso.
Choca-me que as pessoas neguem as suas raízes, ou pior, que trocem das raízes dos outros. Cada um é de onde é, teve a educação que teve, e com o tempo pode chegar onde quiser, se quiser. O lugar de onde saiu pode até ser irrelevante como condicionante,(ou não) mas está lá. E seja onde for, deve ser motivo de respeito, pelo menos.
Negar as raízes é cobarde.
E eu não sou cobarde. Tenho muito orgulho de ser donde sou.
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