domingo, dezembro 09, 2007

# 3 Filosofia de Ponta: Das pessoas que amamos e odiamos

As pessoas são inevitáveis, na nossa vida. Estamos rodeados delas, e se assim não fosse, pelo menos morríamos de tédio. Fonte de verdadeira felicidade para nós, algumas pessoas que passam pela nossa existência marcam-nos momentos tão bons que nunca mais as esquecemos. Outras há que são para nós como verrugas que tentamos arrancar, espremer e deixar secar com toda a força dos nosso músculos.
Há, portanto, pessoas de quem gostamos e pessoas que odiamos. Mas também há os meios termos, isto é, pessoas que gostamos assim-assim, pessoas que não nos fazem qualquer diferença, e pessoas por quem simplesmente não nutrimos grande simpatia.
Se nos perguntarem que é o nosso melhor amigo, ou a pessoa de quem gostamos mais, respoondemos prontamente um, dois ou três nomes. Pais, irmãos, namorado/cônjuge, ou o melhor amigo, podem estar sempre no topo da nossa lista dos beloved. Mas se nos perguntarem quem é o nosso maior inimigo, a pessoa mais odiosa para nós, esses nomes também aparecem. Mas temos vergonha ou pudor em dizer quem são. Porquê? Porque raio fazemos gala em gritar aos sete ventos os nomes dos nossos entes queridos, e escondemos do mundo os nomes daqueles que gostaríamos de ver desterrados na Sibéria,sem roupa e sem comida?
É feio odiar pessoas. Mostra o lado negro da raça humana, e ninguém gosta de mostrar o seu lado negro. Somos todos bonzinhos, não é? Não possuimos sentimentos menos nobres. Não queremos mal a ninguém.
Mentira! Faz parte da natureza humana, mentir. E odiar, também. E não gostar, e não sentir empatia, e querer o mal de alguém. E porque é que isso acontece? Normalmente, porque se trata de pessoas que nos fizeram mal... ou que fizeram alguma coisa que não nos agradou.
Acontece a toda a gente, isto. Também há casos em que não se gosta das pessoas pela pura inveja de se querer ser, ou ter, como essa pessoa. Nestes casos, criamos anticorpos contra as pessoas que são o exemplo daquilo que queremos. É natural que isto suceda assim, somos pessoas, não somos deuses. E mesmo que eu fosse Deus, garantidamente gostaria mais de uns indivíduos que de outros. "Ai este fulano é assim, ai fez isso, ai é mau? Então não gosto dele, vou castigá-lo"; "Ai esta tipa é gira, ai tem a mania, ai não tem mania, mas devia ter? vou dar-lhe uns azares, para ela aprender...". Seria um Deus um bocadinho tendencioso, lá isso é verdade, mas deve ser por isso que eu não sou Deus... O verdadeiro Deus é-o por alguma razão.
Odiar é uma palavra forte. Para nós, pessoas comuns (eu considero-me uma pessoa comum), é normal odiar uma, duas, no máximo três pessoas. Mais do que isto, já é capaz de ser uma psicopatia. Digo ODIAR mesmo, aquela vontade que temos de esganar, de condenar ao fogo eterno, de causar a maior das infelicidades. Quando odiamos, desejamos que essa pessoa morra, ou pelo menos não nos importávamos nada com isso, se acontecesse. Por razões de piedade humana, ou religiosa, ou espiritista, acabamos sempre por não odiar ao ponto de matar mesmo. Alguns fazem-no, mas esses chama-se criminosos, muitos deles psicopatas. Não serão exemplo. Mas de facto, as pessoas que odiamos causam-nos um mal-estar tão incómodo que gostaríamos, pelo menos, de nunca mais as ver, gostaríamos que fossem para longe de tudo o que nos diz respeito e não voltassem. E de preferência, que fossem infelizes.
Já devem ter reparado que, por esta ordem de ideias, o ódio é o oposto do Amor. Ponham esta fraseado anterior todo ao contrário, e aí tem o nobre sentimento do Amor: o fogo, a ansia de ter, o desejo de felicidade, o querer bem, o não passar sem. Mas sobre o Amor, já tanto se disse, que qualquer coisa que eu escreva vai parecer enfadonha. Não que eu ache que o Amor é enfadonho, não, que o Amor é lindo, mas tem mais piada escrever sobre o ódio... precisamente porque não se escreve tanto sobre ele. É quase uma injustiça.
Odiamos porque nos fizeram mal, em primeiro lugar. De alguma maneira, sentimo-nos injuriados com a atitude de alguém: falaram mal de nós, prejudicaram-nos o emprego, traíram a nossa confiança, ofenderam-nos, envergonharam-nos, roubaram-nos, enganaram-nos, humilharam-nos... há tantas causas! Mas os efeitos podem ser diferentes, nas pessoas.
Os mais "sangue de barata" regaem beatamente com a atitude de "Deus te perdoe", e muitas vezes oferecem a outra face, e lá são tramados novamente. Perdoam, esquecem, a sua magnanimidade é quase divina. Santos, esses, que os seus ossos não se esfarelarão em pó, e serão canonizados. Há os menos bonzinhos, mas sobretudo pacíficos, que preferem um "Deus te castigue", apelando à justiça divina a aplicação do correctivo. Até podem perdoar, mas não esquecem... e raramente oferecem a outra face. Depois, há os que reagem logo: respondem à letra, no calor da emoção, e aplicam o correctivo na hora - são os práticos. zangam-se com o seu inimigo, mas passado um tempo, as coisas até vão passando. Estes, umas vezes perdoam, outras não... a maior parte das vezes, até esquecem, com o passar do tempo. Depois temos os vingativos: aqueles que calam a mágoa só pelo objectivo de se vingarem do seu ofensor, mas não logo, antes em altura que seja fatal - pela calada, quando o inimigo dorme. Terríveis esses - nem perdoam, nem esquecem...
Às vezes estas coisas misturam-se. Dependendo muitas vezes de quem nos ofende, ou da altura da vida em que estamos, esquecemos e perdoamos quem não devíamos, muitas vezes, e vice-versa.
Há depois aqueles ódios ligeiros, aquelas antipatias figadais mas inofensivas, aquelas incomodativas rixas psicológicas que travamos telepaticamente com o nosso pseudo-inimigo: são as pessoas com quem "não vamos muito à bola". Estes estão no limbo entre o "não gosto lá muito de ti, à primeira que me faças, risco-te da minha lista", e o "pode ser que um dia mude de ideias e passes até beneficiar da minha amizade". São estes casos que trazem surpresas. Quantas vezes antipatizamos com pessoas que com o tempo passam a ser as nossas melhores amigas? Ou até mesmo grandes casos amorosos que começam com animosidades menos queridas? A estas pessoas, pomos à prova sempre que podemos, é uma avaliação constante. Somos desconfiados, em relação a elas. É uma trabalheira.
E aqueles que não nos aquecem nem nos arrefecem? Pessoas que passam pela nossa vida, e não damos por elas, ou, pelo menos, em relação às quais não temos curiosidade, não queremos saber, não nos chamam a atenção? Cuidado com elas.... muitas vezes, são essas que mais nos amam, ou que mais nos odeiam....
Os nossos amigos, aqueles de quem gostamos, aqueles que consideramos bem, os que temos sempre à nossa volta, a esses amamos de um amor amigo, gostamos deles mas conseguimos suportar a distância, quando ela se impõe. Sabemos que eles estão por nós, mesmo que estejam longe. Fazemos o que podemos por eles, muitas vezes o que não podemos, e só queremos que sejam felizes, especialmente se for perto de nós. Família, amigos, colegas, esses todos.
No topo do ranking, L' Amour (em francês é mais doce, mais fervoroso, digo eu). Amamos as pessoas que nunca queremos longe de nós, e, normalmente estas pessoas são os nosso pais, os nossos amados, e os nossos filhos. Devotos a eles, a nossa vida é, em muito, causar-lhes momentos de felicidade. E é assim que somos felizes, também. mesmo quando as pessoas que se amam se magoam, isso é porque se atrapalham com tanto desejo de fazer e ser feliz. Às vezes isso é difícil de conjugar, especialmente porque o Amor pressupões um bocadinho de sentimento possessivo... e isso às vezes fere o ente amado. Mas passa e perdoa-se se o Amor é verdadeiro.
Até porque se o Amor não é verdadeiro, pode sempre dar em ódio e aí, lá vamos nós outra vez ao início deste texto.
Somos assim, nós. Andamos por aqui aos encontrões uns aos outros, e que remédio temos nós senão conviver, e fazê-lo pelo melhor. Melhor ou pior, isso depende. De nós, e, mais uma vez.. dos outros. E, verdade seja dita, quem poderia viver sem isto?